Quem vem e atravessa o rio,
junto à Serra do Pilar,
vê um velho casario
que se estende até ao mar.
Quem te vê ao vir da Ponte
és cascata sanjoanina
erigida sobre um monte,
no meio da neblina,
por ruelas e calçadas,
da Ribeira até à Foz,
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.
Esse teu ar grave e sério
dum rosto de cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria.
Ver-te assim abandonado
nesse timbre pardacento,
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento...
e é sempre a primeira vez,
em cada regresso a casa,
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa.
[Carlos Tê]
Parabéns pelo blog :) As fotos tão muito boas! Gostei especialmente da nº 6 e 7.
ResponderExcluirDeviam experimentar tirar fotos às ruas do Porto (baixa), por volta das mesmas horas ... principalmente de madrugada, quando estão quase desertas.
Continuem com o bom trabalho! :D
Beijinhos!
Recado ao Porto
ResponderExcluirNas margens
Deste rio atormentado
É que está dependurado
O nome do meu país
Mistura
Entre a fuga e a procura
Entre o medo e a loucura
Que estão na minha raiz
Meu Porto
Muito mais vivo que morto
Tu recusas o conforto
De quem está morto de vez
Por isso
Eu te mando este recado
Porque vivo atormentado
Como o rio que te fez
Daqui houve nome Portugal
Aqui está tudo bem e tudo mal
Meu Porto, és o carinho que me tenho
És a ponte de onde venho
Entre o mar e o quintal
Criança
Ris e choras de seguida
Mesmo quando a tua vida
É o assunto da anedota
Sentir
É o teu modo de existir
E és capaz de mentir
Só para não fazer batota
Meu Porto
Revoltado e penitente
Invicto p'ra tanta gente
Só por ti és derrotado
Nas margens
Do rio que te desflora
Há um vulcão que demora
E dorme sempre acordado
Daqui eu fui embora sem vontade
Aqui eu renasci p'rà liberdade
Meu Porto, deixa-andar, nunca-fiando
Que me dás de contrabando
A mentira e a verdade
José Mário Branco