30 de setembro de 2010

Porto Nocturno

Quem vem e atravessa o rio,
junto à Serra do Pilar,
vê um velho casario
que se estende até ao mar.




Quem te vê ao vir da Ponte
és cascata sanjoanina
erigida sobre um monte,
no meio da neblina,
por ruelas e calçadas,
da Ribeira até à Foz,
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.




Esse teu ar grave e sério
dum rosto de cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria.





Ver-te assim abandonado
nesse timbre pardacento,
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento...
e é sempre a primeira vez,
em cada regresso a casa,
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa.


[Carlos Tê]






(todas as fotografias foram tiradas por nós, numa noite de Março e numa madrugada de Setembro)

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog :) As fotos tão muito boas! Gostei especialmente da nº 6 e 7.
    Deviam experimentar tirar fotos às ruas do Porto (baixa), por volta das mesmas horas ... principalmente de madrugada, quando estão quase desertas.
    Continuem com o bom trabalho! :D
    Beijinhos!

    ResponderExcluir
  2. Recado ao Porto

    Nas margens
    Deste rio atormentado
    É que está dependurado
    O nome do meu país
    Mistura
    Entre a fuga e a procura
    Entre o medo e a loucura
    Que estão na minha raiz

    Meu Porto
    Muito mais vivo que morto
    Tu recusas o conforto
    De quem está morto de vez
    Por isso
    Eu te mando este recado
    Porque vivo atormentado
    Como o rio que te fez

    Daqui houve nome Portugal
    Aqui está tudo bem e tudo mal
    Meu Porto, és o carinho que me tenho
    És a ponte de onde venho
    Entre o mar e o quintal

    Criança
    Ris e choras de seguida
    Mesmo quando a tua vida
    É o assunto da anedota
    Sentir
    É o teu modo de existir
    E és capaz de mentir
    Só para não fazer batota

    Meu Porto
    Revoltado e penitente
    Invicto p'ra tanta gente
    Só por ti és derrotado
    Nas margens
    Do rio que te desflora
    Há um vulcão que demora
    E dorme sempre acordado

    Daqui eu fui embora sem vontade
    Aqui eu renasci p'rà liberdade
    Meu Porto, deixa-andar, nunca-fiando
    Que me dás de contrabando
    A mentira e a verdade

    José Mário Branco

    ResponderExcluir